Texto de João Lemos Esteves hoje publicado na edição online do "Expresso".
"1. Vamos ser claros. Duros, mas objectivos e honestos: o
Governo Passos Coelho está morto. Não há hipótese de o actual executivo
se revigorar ou sequer voltar a dar sinais de saúde. Estamos todos à
espera da declaração de óbito do Governo Passos Coelho. O resto serve
apenas para entreter ou para, mais tarde, se afirmar que tudo foi feito
para que Passos Coelho cumprisse a legislatura. Até Ângelo Correia, o
padrinho político de Passos Coelho, afirma que o Governo precisa de uma
lufada de ar fresco. Ora, quando o próprio padrinho político de
Passos Coelho alerta para problemas políticos do Governo, é porque os
problemas são mesmos graves. Aliás, as declarações de Ângelo Correia
fazem soar uma campainha em todos os que acompanham a política
portuguesa com atenção: lembram-se quem é que foi o grande artífice da
vitória Luís Filipe Menezes nas directas do PSD de 2007, contra Luís
Marques Mendes? Foi precisamente Ângelo Correia. E quem é que precipitou
a queda de Luís Filipe Menezes, possibilitando a ascensão de Manuela Ferreira
Leite? Foi precisamente....Ângelo Correia. Ou seja, Ângelo Correia leva
ao colo os candidatos que julga mais adequados e mais fortes em dado
momento, exercendo uma tutela sobre eles; depois, deixa-os cair quando
já estão enfraquecidos, incapazes de ser reabilitados...Eis o síndrome
Ângelo Correia - síndrome de que Passos Coelho já está a sofrer.
2. Posto isto, pergunta-se: uma remodelação salva o
Governo? A resposta é claramente negativa. Até os proponentes dessa
solução, depois acrescentam que a amplitude desta remodelação seria
quase total: ou seja, deveria abarcar praticamente todos os
ministros...Praticamente, só o Ministro da Saúde é que se deveria
manter. Mas deixemo-nos de rodeios: Passos Coelho poderia sobreviver
politicamente, mantendo-se como Primeiro-ministro, após demitir todos os
seus actuais Ministros? Claro que não: Passos Coelho ficaria como um
Primeiro-Ministro altamente enfraquecido, liderando um Governo em que
todos os Ministros achariam que mandam mais do que o próprio Passos
Coelho...No fundo, seria mudar para tudo ficar na mesma. Nenhum cenário há que possa salvar o Governo Passos Coelho.
2.1. Em segundo lugar, o cenário de uma remodelação
governamental, neste momento, é uma hipótese meramente académica. Isto
porque dado o estado de degradação do Governo, não há certamente nenhuma
personalidade de mérito e com competências reconhecidas (e minimamente
sensata!) disposto a ser liderada por um Primeiro-Ministro que já se
mostrou mais do que incapaz. Ou alguém acha que alguém com talento e
lucidez política aceitaria entrar num Governo que está prestes a cair?
Daí que uma eventual remodelação governamental seria apenas um pretexto
para Passos Coelho levar para o Governo novos "Miguéis Relvas" ou
novos "José Sócrates", mais boys do partido, que seriam tão ou mais
politicamente desastrosos que os que já lá estão! Portanto, a
remodelação - a tão falada remodelação! - é uma não solução! Apenas
isso...um devaneio ou um sonho doce, romântico de Páscoa de quem não
quer ver um facto que se torna cada vez mais evidente: o Governo Passos
Coelho vai passar à História muito brevemente! O interesse de Portugal assim o impõe!
Passos Coelho matou o seu Governo para salvar Miguel Relvas! Porquê?
3. Chamo novamente a atenção para o caso singular (e
bastante insólito) de Miguel Relvas. Como é que Passos Coelho é tão
ingénuo, é tão fraco politicamente, que deixou o seu Governo ir abaixo,
ser completamente desacreditado pelos portugueses só para manter o seu
amigalhaço no Governo? Qual será o dirty little secret de Passos Coelho e
Miguel Relvas? É assim tão forte que justifica manter Relvas, mesmo que
este seja uma das causas (muito fortes) da destruição do Governo? Tudo
com Miguel Relvas foi muito estranho - até a sua entrada no Governo foi
algo surpreendente. Talvez um dia Passos Coelho poderá explicar...A
política tem coisas muito estranhas...oh, se tem! De facto, considero
que Passos Coelho deveria ser obrigado a explicar por que não demite
Miguel Relvas!
Já reparam, no entanto, que António José Seguro nunca
bate no membro mais fraco e polémico do Governo? Claro que nada tem que
ver com o facto de Miguel Relvas ser o padrinho de casamento de António
José Seguro... são outras razões....políticas, pois claro!"
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