Texto de Paulo Morais, Professor universitário, hoje publicado no Correio da Manhã
"Os verdadeiros marginais no sábado foram os partidos, a classe política, os sindicatos e outras estruturas do regime.
No último fim de semana o povo saiu à rua. Veio clamar por justiça e rejeitar as políticas seguidas por este regime moribundo.
Nas
manifestações, em Lisboa, no Porto, e um pouco por todo o país, estava
representada uma maioria sofredora, todo um povo que se sente num beco
sem saída.
Um beco em que Cavaco, Guterres,
Barroso e Sócrates nos encurralaram. Passos Coelho prometeu que nos iria
resgatar deste atoleiro, mas apenas tem mantido o status quo,
tornando-se assim co-responsável por uma das piores fases da vida da
história do país. Esta é a geração mais espoliada nos seus rendimentos,
que são transferidos pelo sistema político para os cofres dos
verdadeiros donos do regime, bancos, construtores e promotores
imobiliários. A política abastardou-se e transformou o orçamento de
estado no instrumento que drena os recursos dos pobres para o bolso dos
poderosos.
Nas manifestações de sábado marcou
presença todo o tipo de portugueses, desesperados, revoltados ou
deprimidos, injustiçados, letrados e analfabetos, velhos e novos.
Encontrei
mães aflitas que já não têm comida para dar aos filhos, professores
indignados porque os seus alunos chegam à escola sem pequeno-almoço,
reformados deprimidos porque não têm dinheiro para passear, por via da
redução das pensões, a par do aumento do preço dos transportes. Também
lá estava a classe média, informada e culta, pois sente que a redução do
seu poder de compra é em vão. Sabe que abdica de férias, passeios e
almoços apenas para manter negócios criminosos como o das parcerias
público-privadas.
Estavam jovens sem futuro,
idosos sem presente. Pais e avós amargurados. Marcaram presença
emigrantes, desde os que saíram para escapar à fome e à miséria, até
jovens qualificados que tiveram de deixar o país porque não têm cá
qualquer possibilidade de sucesso. Fartos de incompetência, rumaram a
paragens onde a sua carreira depende do currículo e não do padrinho ou
da filiação partidária.
Marginalizados da
manifestação – os verdadeiros marginais no sábado – foram os partidos, a
classe política, os sindicatos e todas as outras estruturas orgânicas
do regime. Não havia caciques, todos eram pares. Sentia-se no ar o
espírito de Grândola, "em cada esquina um amigo, em cada rosto
igualdade".
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