Texto de Henrique Monteiro hoje publicado na edição online do "Expresso".
"Estou convencido de que o discurso feito ontem por Passos Coelho, caso tivesse sido há dois anos, não produziria a enorme rejeição e até violência verbal com que tem vindo a ser recebido. Poderia até ser saudado por muitos setores da sociedade. Há dois anos a equiparação dos funcionários públicos aos privados,
o apelo ao consenso e a ideia de que as medidas estão em aberto e
poderiam ser discutidas seriam percecionadas pela maioria dos
portugueses como positivas.
O problema é que há dois anos Passos não gerava a
desconfiança que hoje gera. Há dois anos, não tinha havido o colossal
aumento de impostos, a taxa de desemprego não rondava os 20 por cento,
os colossais falhanços de previsão de Vítor Gaspar não existiam. Há dois
anos o Governo não estava dividido e o PS não podia virar pura e
simplesmente as costas a uma proposta de compromisso.
Hoje tudo é demasiado tarde.
Apesar de as medidas anunciadas serem o que já se sabia e produzirem tecnicamente um corte efetivo (e não temporário) na despesa do Estado,
aliás, o primeiro grande corte na despesa, já ninguém acredita que este
caminho não crie mais desânimo, quebra do consumo e recessão.
O problema não é a medida, porque não haverá equilíbrio das contas sem haver cortes na despesa do Estado
(e a maioria da despesa do Estado são salários e prestações sociais). O
problema é que quem propõe já não consegue convencer ninguém.
A liderança do Governo tornou-se um problema para o país"
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