Texto de Nuno Saraiva hoje publicado no "Diário de Noticias"
"A comunicação ao
País do primeiro-ministro arrancava de forma promissora: "Chegou o
momento de relançarmos o investimento privado." Mas, minutos depois,
percebemos que, mais uma vez, a ditadura das Finanças prevalece sobre a
agenda do "fomento industrial". Nem uma palavra sobre crescimento, nem
uma ideia sobre combate ao desemprego, nem uma sugestão sobre
revitalização da Economia, nem uma mensagem de esperança para o
interminável exército de empobrecidos que vai penando com dificuldades.
Nada.
Ao contrário, voltou a agarrar no serrote e, mais uma vez a
eito, avançou sobre a idade da reforma, criou um novo imposto para as
pensões, anunciou a revisão em baixa das tabelas salariais da
administração pública, decretou o aumento do horário de trabalho dos
funcionários públicos para as 40 horas semanais, apregoou um programa de
rescisões/despedimentos que atingirá 30 mil trabalhadores do Estado e
determinou um novo corte de 10% nos encargos dos ministérios que,
suspeito eu porque não foi dito, irá concentrar-se na Educação, na
Segurança Social e na Saúde.
Ficou claro, mais uma vez, que
estamos em estado de guerra. E que de um lado está o Governo e os seus
acólitos - cada vez são menos, é certo - e do outro estão os
portugueses. Perante a evidência do fracasso da receita que está a ser
seguida, o Executivo, em vez de levantar a voz e dizer "basta!" a quem
persiste na intenção de matar o doente com a cura, continua a
comportar-se como encarregado obediente e subserviente dos credores em
Portugal.
Sabemos inclusive que o ministro das Finanças, do alto
da sua genial e proverbial inteligência, e com a sobranceria de quem
"não foi eleito coisíssima nenhuma" mas ungido, utilizou o Documento de
Estratégia Orçamental, o famoso DEO, para, nas instâncias
internacionais, dizer mal de Portugal e dos portugueses, classificando
como "irresponsáveis" todos os malandros que o antecederam. No fundo,
Vítor Gaspar comporta-se como um ministro de Pétain, na França de Vichy.
Isto é, tal como a minoria colaboracionista de 1940 a 1944, também o
diligente delegado da troika em Lisboa obedece, orgulhosamente, à
política de destruição do Estado e da economia portuguesa. Sim, porque é
disso que se trata. De nada valem as medidas avulsas para estimular o
crescimento económico e o fomento industrial apresentadas por Álvaro
Santos Pereira, se depois chegam Passos e Gaspar e matam à nascença
todas as possibilidades de recuperação económica.
Que ninguém se
iluda. O novo pacote ontem apresentado, a pretexto de dar resposta ao
chumbo do Tribunal Constitucional a medidas consideradas ilegais, só vem
criar mais desemprego, agravar a recessão e destruir, ainda mais, a
economia.
O tempo é, pois, de dizer basta. Basta da
desonestidade de afirmar que não há alternativas. Basta da falácia
repetida vezes sem conta sob a forma de discurso único de que
"renegociar o ajustamento" é sinónimo de não querer pagar a nossa
dívida. Basta de nos enganarem sistematicamente com a promessa de que
"os sacrifícios valerão certamente a pena". Basta de nos fazerem de
idiotas garantindo que "não haverá mais aumento de impostos", como se a
nova contribuição especial ontem anunciada não fosse uma nova taxa.
Basta, como dizia Manuela Ferreira Leite, de nos imporem austeridade "em
nome de nada". Basta de fingirmos que o consenso não existe, quando é
absolutamente claro que ele aí está, porém de sinal contrário àquele de
que o Governo gostaria. Basta.
António Nóvoa, o reitor da
Universidade de Lisboa, dizia ontem que "em tempos tão duros como os de
hoje ninguém tem o direito de ficar em silêncio". E rematava: "É tempo
de dizer não. Não a um País sem futuro." E eu acrescento, é tempo de
dizer basta."
sábado, 4 de maio de 2013
Basta!
Etiquetas:
governo,
passos coelho
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