Um texto de revolta que circula pela internet.
É preciso aumentar o tom de protesto, o povo vir para a rua dizer BASTA numa verdadeira sublevação popular para correr com o estúpido Passos Coelho daqui para fora e, já agora, com o inútil do Cavaco também!
Em Democracia, a
legitimidade reconhece-se por duas vias, sucedâneas, complementares e
imprescindíveis, ambas obedientes à mesma lei fundacional dessa Democracia, a
Constituição da República: a que resulta de um acto eleitoral livre e
democrático; e a que resulta do exercício do poder no cumprimento dessa Lei
Primeira.
Quer o Presidente da
República, quer o Governo, são-no como resultado de actos eleitorais livres e
democráticos. Recolheram, por isso, legitimidade para o exercício dos
respectivos cargos.
Mas existirá a
legitimidade resultante do exercício do Poder?
Em texto anterior
(“O Estado a que isto Chegou” – Que Consequências?”), argumentei sobre a
ilegitimidade da acção governativa. Desde então, não só essa ilegitimidade foi
substantivamente praticada, como despudoradamente afirmada. Dois exemplos
apenas:
1)
A violenta diatribe do primeiro-ministro contra
o Tribunal Constitucional (TC), por este ter “chumbado”, por inconstitucionais,
algumas normas contidas no Orçamento de Estado para 2013. Sem sentido de
Estado, sem reconhecimento do Valor inalienável em Democracia que é a separação
de poderes, sem vergonha, e, sobretudo, sem razão nenhuma, o primeiro-ministro pretendeu “atirar para
cima” do TC responsabilidades que são exclusivamente do Governo, isto é, suas!
E nem sequer reparou (ou então fingiu…) que o TC foi inacreditavelmente
“suave”, pois “constitucionalizou” um acto – a Contribuição Extraordinária de
Solidariedade -, apresentando uma justificação pacoviana para encobrir o que é
um autêntico roubo!
2)
A espantosa declaração do ministro das Finanças
– “Não fui eleito coisíssima nenhuma”! –, que constitui a mais cabal e
inequívoca demonstração da ilegitimidade da acção governativa, pois esta
afirmação só pode ter uma interpretação: o ministro das Finanças não exerce o
poder que o cargo lhe confere para governar no cumprimento da Lei Fundamental,
a Constituição da República (Governar pelo Povo, para o Povo, com o Povo), mas
sim para cumprir “ordens superiores”, emanadas de uma “coisa” designada por
“troika”, e revelando toda a acrimónia que resulta da sua acéfala subserviência.
É impossível outra
conclusão: o Governo age com manifesta, sistemática e despudorada
ilegitimidade.
E quanto ao
Presidente da República?
1)
No seu discurso pós-eleitoral foi
impressivamente sectário, vingativo, rancoroso. Assumiu, de facto, que não seria,
nunca, o Presidente de todos os Portugueses, mas apenas de alguns. Este
discurso marca, em definitivo, a dimensão da sua estatura política e social:
não consegue levantar-se do chão!
2)
Num dos seus primeiros actos, opta por ser
remunerado pelas suas pensões, em detrimento do vencimento correspondente à
Presidência da República. É iniludível a consequência imediata desta opção (por
maior suporte legal que tenha!): a Função Presidencial foi esvaziada de
conteúdo, o Presidente passou a ser o “presidente”.
3)
A ambiguidade e a tergiversação das suas
“tomadas de posição” quanto ao desenrolar da acção governativa; quanto às
consequências desastrosas – configuram mesmo o mais sórdido terrorismo social –
para a esmagadora maioria da população; e quanto à desavergonhada protecção dos
responsáveis que nos conduziram a esta situação; foram uma constante.
4)
Confirmando a sua pequenez política e social, o
seu discurso de 25 de Abril, ameaçando todos os que ergam a sua voz contra a
ignomínia, a humilhação, e a ofensa de que são alvo, ao mesmo tempo que louvava
os “mansos”, os “obedientes”, os “resignados” porque, disse, compreendem que
não há alternativa, constitui um insofismável apoio à ilegitimidade da acção
governativa.
É impossível outra
conclusão: o “presidente” da República exerce o poder inerente ao seu cargo de
forma ilegítima.
Estas duas práticas
– a da acção governativa e a “presidencial” – assentam na discriminação, na
discricionariedade, na assumida subalternização, senão mesmo repúdio, da Lei Fundamental, a Constituição que juraram cumprir.
Mais do que isso, é
insultuoso o louvor que fazem dos “mansos”, dos “obedientes”, dos “resignados”
porque, dizem, “compreendem que não há alternativas”, em oposição à ameaça que
lançam sobre aqueles que, porque humilhados e ofendidos, perguntam em voz alta
PORQUÊ? ONDE ESTÃO OS RESPONSÁVEIS? QUE JUSTIÇA É ESTA, TÃO DESCARADAMENTE
SELECTIVA? QUE FUTURO PODEMOS CONSTRUIR?
QUAL A FELICIDADE A QUE TEMOS DIREITO?
A acintosa
demonstração de absoluta insensibilidade social e humana por parte dos dois
poderes atinge o seu máximo grau quando permite, senão mesmo promove, a miséria
de milhões de seres humanos, cujo resultado mais execrável é haver (números do
próprio Ministério da Educação!), no século XXI, num país europeu, mais de
10.000 crianças com fome! Este CRIME CONTRA A HUMANIDADE não pode ficar impune,
abafado pelas palavras ignóbeis dum qualquer “ai aguenta, aguenta”!
Por muito
“cordeiros” que sejamos; por muito “ordeiros e sensatos” que sejamos; por
grande que seja a nossa capacidade de sofrimento, e de encontrar no meio de tão
violentas e intencionalmente impostas adversidades, um átomo de alegria que nos
ajude a suportar tanta dor, tanta humilhação, tanta ofensa, tanto desprezo; há
um limite que não nos deixa aceitar sermos “coisificados”, que nos impõe
lutarmos pelo direito à liberdade de escolhermos o nosso caminho, fazendo do
respeito mútuo um Valor inalienável, e rejeitando com toda a veemência
quaisquer formas de discriminação, de discricionariedade, de abuso do poder.
O exercício do
poder, pelo “presidente” da República, e pelo Governo, é inequivocamente
ilegítimo, quer nas suas formas, quer nos seus conteúdos. Não foi para usarem o
poder desta forma, com este conteúdo, e com o desastroso e humilhante resultado
a que chegámos, que este “presidente” e este Governo foram eleitos.
E se é verdade que o
poder democrático exige, em simultâneo, a legitimidade pelo voto e
a legitimidade pelo exercício democrático do poder, também é
verdade que a cidadania democrática não se esgota no voto: os eleitos estão –
TÊM QUE ESTAR! – ao serviço dos cidadãos, agindo no cumprimento da
Constituição, pois é através dela que nos revemos como Comunidade com um
passado de que nos orgulhamos, um presente em que nos sintamos solidários e
livres, e um futuro que sonhemos e construamos nosso.
O “presidente” da
República afirmou, no seu discurso na Assembleia da República no dia 25 de
Abril: “Há quase 40 anos, Portugal mostrou ao mundo como é possível mudar de
regime sem violência”.
É tempo de mudar de
Governo, e de política,
enquanto a não violência é possível. Mas a ilegitimidade do uso do poder tem um
preço: cabe-lhe toda a
responsabilidade pelas acções, e omissões, concretizadas. Mesmo aquelas que
provoquem reacções de legítima defesa que se revistam de violência.
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