Texto de João Cardoso Rosas, Professor Universitário, hoje publicado no "Diário Económico"
A teoria por detrás das grandes opções
políticas do Governo é a de que “o Estado é o problema”. Esta teoria é
tão simples que pode ser resumida numa frase curta: o Estado é demasiado
grande e é necessário reduzi-lo drasticamente.
Tal teoria não é nova nem virgem e sempre foi acalentada pelo
pequeno grupo que chegou ao poder no PSD e hoje nos governa. Aquilo que o
Governo tem feito, com a desculpa do MdE, excepto quando encontrou pela
frente o Tribunal Constitucional, aquilo que quer fazer ainda mais
agora, é reduzir os salários e pensões dos servidores do Estado e o
orçamento dos serviços públicos.
Porém, aquilo que o Estado português acrescenta à sociedade não se
enquadra na teoria do Governo. Os nossos serviços públicos de saúde são
bons, a educação é razoável, a segurança social garante a coesão da
sociedade, a polícia consegue manter níveis baixos de criminalidade, o
investimento público, quando existia, "puxava" pela economia, etc. Foi o
Estado que contribuiu mais decisivamente para o desenvolvimento
português, antes e depois do 25 de Abril.
Aquilo que funciona mal em Portugal não é o Estado, é a sociedade
civil e a economia privada. É nesta, especialmente nas pequenas e médias
empresas que compõem o tecido económico, que encontramos défice de
qualificações, baixa produtividade, pouca inovação, fuga generalizada ao
fisco. Há algumas empresas boas, mas infelizmente são poucas. Algumas
das melhores desenvolveram-se, não por acaso, à sombra do Estado.
Os partidários do Governo dirão: pois, a economia privada é fraca
porque o Estado é demasiado grande. O que é preciso é que o Estado deixe
os privados ocupar espaço na economia, diminua as suas exigências,
reduza os impostos. Feito isto, tudo correrá pelo melhor.
Mas há aqui um pequeno problema: esta teoria é contrafactual, ou
seja, é uma pura especulação teórica. A realidade mostra que, pelo
contrário, quando o Estado se ausenta aquilo que fica é o vazio, isto é,
o desemprego, a pobreza e a anomia social. A diminuição do Estado não
liberta a sociedade civil porque não há em Portugal, nem nunca houve,
uma sociedade civil que queira ser libertada.
O Governo e os seus ideólogos raciocinam como se Portugal fosse os
Estados Unidos. Mas, quanto ao papel do "activista" do Estado, fariam
melhor em compará-lo, por exemplo, aos países asiáticos emergentes.
Desde a criação da nacionalidade, passando pela expansão ultramarina,
que Portugal é uma obra do Estado.
Por isso só ele poderá impulsionar o dinamismo da sociedade civil e
abrir-nos o futuro. A - muito necessária - reforma do Estado deveria
servir para racionalizá-lo e redireccioná-lo para as necessidades da
sociedade e da economia privada, não para reduzi-lo e enfraquecê-lo.
quarta-feira, 29 de maio de 2013
O problema é o Estado?
Etiquetas:
governo,
passos coelho
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