Texto de Hugo Mendes hoje publicado no "Diário Económico"
"Não é só em Portugal que, historicamente, as pensões do
sector público em Portugal têm regras mais generosas do que as do
trabalhadores do privado: isto acontece na maioria de países da OCDE.
Não é só em Po
rtugal que, historicamente, as pensões do sector
público em Portugal têm regras mais generosas do que as do trabalhadores
do privado: isto acontece na maioria de países da OCDE. E o que se
decidiu na década passada para fazer os regimes convergir respeitou as
medidas (aumento da idade da reforma, penalização das reformas
antecipadas, etc.) e a estratégia habitual de estender o processo no
tempo, protegendo as expectativas dos trabalhadores próximos da reforma.
No mundo civilizado, os sistemas de pensões reformam-se para o futuro e
com impactos a longo prazo - e não alterando das regras que, fixadas no
passado, regem o cálculo das pensões actuais, como propõe fazer o
Governo.
Deixemos de lado a provável inconstitucionalidade da proposta e o
seu terrível efeito sobre a economia, e centremo-nos numa questão (i)
política e noutra (ii) sociológica.
(i) Esta engenharia legal é mais própria dos regimes ditatoriais
do que das democracias liberais. Onde aqueles se alimentam da constante
incerteza e ameaça do uso da retroactividade em nome de um valor
absoluto de "justiça", as segundas fazem da segurança jurídica um
princípio basilar da relação entre o cidadão e o Estado. Ora, o modo
como se faz "justiça" - como se a expropriação dos rendimentos do
trabalho passado fosse aceitável desde que afecte apenas antigos
servidores do Estado - não é uma mera formalidade, sobretudo quando as
condições de que beneficiam os actuais pensionistas foram fixadas no
passado por governos democráticos, no respeito da lei e das expectativas
dos cidadãos.
(ii) Em todos os inquéritos, os portugueses revelam baixos níveis
de confiança nos órgãos de soberania e no Estado. Uma medida destas
aprofundaria um problema que corrói tanto a qualidade da democracia como
a capacidade da economia prosperar. Claro que, para os inimigos do
Estado social, ela tem um amplo potencial, porque transmite aos actuais
trabalhadores a mensagem de que a sua pensão não está garantida por um
Estado prepotente, e que mais vale descontar para fundos privados.
Quem se regojiza com isto brinca com o fogo: este é um daqueles
momentos em que os ideais de Estado de direito, de Estado social, e de
democracia liberal são defendidos ou atacados em conjunto."
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Terrorismo de Estado
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