Texto de Daniel Oliveira, publicado no seu blogue "Antes pelo contrário" no "Expresso".
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Os jogos sem fronteiras de Paulo Portas
"A culpa foi minha. Quando Paulo Portas disse que a "TSU dos pensionistas" era uma "fronteira" que não podia passar
eu levei-o, apesar do seu currículo político em relação aos seus
compromissos categóricos, a sério. Era tudo afirmado com tanta pompa e
circunstância que achei que o resultado teria de ser, se ela se
mantivesse, a queda do governo.
Como nunca tive, até aí a minha ingenuidade não
chegou, a ilusão de que Portas pusesse a possibilidade de abandonar o
lugar de ministro dos Negócios Estrangeiros, acabei por concluir que se tratava de uma encenação
em que Passos avançava com uma proposta com a margem suficiente para
depois recuar e assim dar uma vitória ao CDS, salvando o essencial de
mais um brutal pacote de austeridade. Atribui a este governo, numa
lógica de puro cinismo político, algum profissionalismo.
Assim não foi. A Contribuição de Sustentabilidade - este é o governo dos eufemismos - avançou mesmo. E Paulo Portas ficou. Depois
do choque inicial, o CDS fez saber que tinha tido uma vitória. Daquelas
que tem sempre: as morais e simbólicas. A coisa foi decidida mas, ao
contrário de todos os outros assaltos aos reformados e funcionários
públicos, deixou de ser obrigatória. Só será aplicada se entretanto não
surgir uma alternativa. É a primeira vez na história do País que um Conselho de Ministros anuncia medidas à consignação. Mas foi este absurdo que serviu para que Portas tentasse vender a maior cambalhota da sua longa história de ginasta acrobático como uma não cedência.
Depois de Paulo Portas ter sido de tal forma claro
sobre qual era a sua fronteira, é preciso ser igualmente claro com Paulo
Portas: quem disse que não aceita que uma linha vermelha seja pisada e
decide que afinal ela pode, em último recurso, ser pisada aldrabou as
pessoas quando fez a primeira afirmação. E mostrou que tudo o que diz não deve ser levado a sério.
Paulo Portas não tem fronteiras nenhumas neste jogo que tem como únicos objetivos manter-se no poder
sem, quando vierem as eleições, pagar a fatura dos resultados desta
governação. Como quer ganhar, independentemente do desenrolar do jogo,
faz batota e engana o árbitro, que são os eleitores.
Paulo Portas não disse, no domingo da semana
passada, que não aceitaria passar esta fronteira, a não ser que fosse a
única forma de se manter no governo. Não disse que só aceitaria mais
este imposto sobre os reformados se não houvesse mais nenhuma
alternativa. Disse: "Num País onde parte da pobreza está nos mais
velhos, numa sociedade em que inúmeros avós têm de tratar dos filhos que
estão no desemprego e cuidar dos netos, num sistema social que tem de
respeitar regras de confiança o primeiro ministro sabe e creio ter compreendido que esta é a fronteira que não posso deixar passar. Porque não quero que em Portugal se verifique uma espécie de cisma grisalho."
Deixou passar. Se não houver alternativas, mas
deixou. Continuando a dar ao país a ideia de que se está a bater contra
ela, mas deixou. Esperando ser salvo na 25ª hora, mas deixou. Se ela
for mesmo aplicada e o CDS não sair do governo, só pode ser dito sobre o
seu líder o que se evita afirmar no debate político nacional: que Paulo
Portas é mentiroso. E que quem continuar a votar nele gosta de ser enganado."
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