Texto de Sandro Mendonça, Economista do ISCTE-IUL, hoje publicado no "Diário Económico"
Falarem-nos em “pós-Troika” é
atirarem-nos pó para os olhos. Pior do que não querer ver é não deixar
ver.Se o País não tem pão há, porém, quem insista em torná-lo pelo menos
um circo.
Os intermináveis conselhos de Estado e as maratonas dos conselhos
de Ministros parecem levar cada vez mais tempo, como se os artistas se
esmerassem por se caracterizar cada vez melhor antes de entrarem em
cena. Tal é fácil de explicar. As rugas dos seus argumentos e a caduca
velhice da sua credibilidade aparecem expostas às luzes do triste
espectáculo em que se tornou a governação.
O resultado do ‘show' não convence. O ‘stock' de manobras de diversão
esgotou-se, a imaginação faliu. Presidente e Governantes têm os bolsos
vazios de ideias. E é então, por entre os assobios e os protestos da
multidão, que os ‘performers' ensaiam o seu último truque: soprarem o pó
da sua própria maquilhagem para os olhos da audiência.
As forças políticas da actualidade têm tudo o que pediram. Estes
embaixadores da chantagem externa, unidos a uma banca nacional que sugou
o Estado democrático da sua sustentabilidade, têm tido à sua volta uma
moldura ideológica e institucional (FMI, BCE, Comissão Europeia e a
OCDE) que lhes permitiu políticas bem para lá dos interesses nacionais,
da racionalidade económica e dos direitos sociais.
É o próprio Carlos Moedas que diz: foi um "choque" útil (para
alguns). É Poiares Maduro (o novo retórico-em-chefe da trupe
governativa) quem melhor ilustra a perda de subtilezas: acusa o Tribunal
Constitucional de ser pior que os conservadores norte-americanos e
insulta os Parceiros Sociais batendo com a porta a meio de uma reunião
de trabalho.
A ambição do Gasparismo é haver ‘troika' para além da ‘troika'. O
plano é hoje óbvio: não deixar o país levantar-se mais pelos seus
próprios meios. Regressar aos mercados é estarmos de novo à mercê de
especuladores (tão desregulados como no período pré-'troika'). Afinal o
sonho de Sá Carneiro é um pesadelo. Um Presidente, um Governo, uma
Maioria... uma Miséria.
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