"Há um nó na nossa sociedade que ninguém está a ser capaz de desatar: as pessoas que deviam domar o monstro são as pessoas que o monstro alimenta há décadas.
Do PSD ao PS, do CDS ao Bloco e ao PCP, cada partido e
cada deputado desempenha as mesmas coreografias de sempre, seja de
apoio ou de oposição, mesmo quando tudo parece desabar à sua volta. Não
há imagem mais emblemática desse estado de coisas do que Catarina
Martins a protestar contra o governo à porta do Palácio de Belém,
enquanto uma manifestante lhe gritava aos ouvidos "gatunos, gatunos, é
tudo igual".
Este "é tudo igual" é absolutamente
terrível porque, no fundo, é também absolutamente verdadeiro. Claro que
dissolver a individualidade de cada político numa massa indistinta é o
melhor convite para o aparecimento dos iluminados anti-sistema, que
habitualmente são mais perigosos do que aqueles que lá estão. Só que o
afundanço de Portugal é também o afundanço de um sistema que não está a
ser capaz de dar respostas aos problemas do país, na medida em que essa
resposta passa por uma modificação pro-funda das suas regras
defuncionamento.
Mas quem tem, neste momento, a
coragem, a capacidade e a inteligência para matar o pai? Este conflito
político-edipiano, chamemos-lhe assim, esteve bem à vista no último
Conselho de Estado: os conselheiros que supostamente deviam salvar o
país da TSU eram os mesmos que tinham contribuído ao longo de anos e
anos para o estado a que o país chegou. O povo quer pureza, novas
atitudes e caminhos alternativos, mas é como procurar virgens no meio de
um bordel. E à falta de respostas, o nó continua a apertar. Em redor do
nosso pescoço."
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