Texto de João Marcelino hoje publicado no Diário de Noticias
"1. O erro de
Passos Coelho é muito comum entre os decisores nacionais, e não apenas
políticos. Acham que tudo é técnico. Decidem, está decidido.
Inevitavelmente, obedecerá quem deve. Não conseguem ouvir mais do que
alguns segundos e estão rodeados de consultores, assessores e outros
seres, que avisadamente se preparam com esmero para lhes dizer sempre o
que eles gostam de ouvir. Até que um dia...
Para Passos Coelho
esse dia chegou, inesperadamente, pouco mais de um ano depois da tomada
de posse - e isso, pela rapidez, é que é estranho.
Em dez minutos
apenas, entre um jogo de futebol e uma ida a um concerto, o
primeiro-ministro forneceu o pretexto que delapidou o formidável
consenso nacional por detrás das medidas de austeridade impostas pela
troika de credores.
Antes, acredito, Passos Coelho não terá
investido muito tempo na previsão do impacto social da "genialidade"
técnica da TSU fabricada pelo Ministério das Finanças. Agora,
descortino, estará desgostoso com um país que o não entende e, no
limite, nem sequer o merecerá...
Se for mesmo assim, o diagnóstico é fácil: autismo.
2. A insensibilidade social que é preciso ter para impor um
financiamento do trabalho ao capital, dos trabalhadores aos patrões, em
plena maior crise económica, financeira e social dos últimos 35 anos,
pelo menos, fica registada. É uma nódoa. E os verdadeiros empresários,
os que criam riqueza e empregos afastados do conforto dos monopólios ou
da permanente traficância com o poder em exercício, nem sequer
agradecem, porque sabem que arrefece a economia e no fim da linha os
prejudica.
Passos Coelho tornou-se, num fugaz instante, um homem
só. É fustigado pelo interminável silêncio de Paulo Portas, pelos
variados recados dos amigos próximos de Cavaco Silva, alguns deles que,
solenemente, se vão reunir no Conselho de Estado que o Presidente
convocou já para o fim da próxima semana, e pela incomodidade geral do
PSD. Todos eles ampliam o coro de desespero das pessoas ofendidas a que
os partidos da oposição naturalmente se colaram e tentam representar.
O
ambiente político no País está à beira de uma explosão de cidadania nas
ruas e o primeiro-ministro só pode queixar-se de si próprio. Exorbitou
no papel do capataz que, por excesso de zelo, arrisca acabar odiado por
uns e será, então, descartável pelos outros.
3. A queda do
Governo seria, no entanto, o pior que poderia acontecer a Portugal neste
momento. Então, sim, transporíamos de um salto a já pequena fronteira
que nos separa da Grécia.
Por isso mesmo, pelas responsabilidades
que tem na atual situação do País, sobretudo pela insensata proposta da
TSU, Passos Coelho tem de saber sair rápido desta situação. Uma semana
começa a ser muito tempo. A entrevista à RTP mostrou que ainda hesita
entre avançar e recuar. E, no entanto, por respeito aos portugueses,
sobretudo aqueles que acreditam na União Europeia, no euro e não
desistem de ser honrados querendo pagar os seus compromissos
internacionais, o primeiro-ministro tem de encontrar urgentemente uma
saída para esta crise que ele próprio provocou.
Paulo Portas
também não pode insistir demasiado neste silêncio pérfido. O País
precisa de ouvir o líder do CDS dizer claramente o que quer. Fica e
negoceia? Ou bate com a porta e assume as suas responsabilidades?
Ambos,
Passos e Portas, vão ter de se entender muito rapidamente e depois com o
País, se isso ainda for possível. Como isto está, e se verá hoje nas
ruas, a questão da legitimidade não se esgota no Parlamento. E mesmo aí,
com os apelos de Cavaco Silva, perdão de Manuela Ferreira Leite, nunca
se sabe...
António José Seguro, por seu lado, falou claro aos
portugueses, sem rodeios. Não é habitual nos políticos portugueses e
marcou pontos para dentro e fora do partido. Quem acha que o
secretário-geral do PS é um político fraco está a ver muito mal..."
sábado, 15 de setembro de 2012
Um homem só
Etiquetas:
governo,
passos coelho
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