"Há quem manobre admiravelmente o governo dos povos pa-ra os encerrar em situações penosas. Assim o governo demissionário de Sócrates foi levado a assinar o memorando de entendimento, apenas a um mês da derrota eleitoral anunciada. Lá ficou o PS cativo na despedida do poder. Semanas depois, tomava posse o campeão da salvação de Portugal pela troika.
O bloco central asfixiava os portugueses. Como escreveu ontem o ‘El País’, "Portugal cumpre um ano de desgaste".
O
governo de Passos Coelho percebeu logo o impulso que a troika traria ao
seu programa de desmantelamento do Estado e de empobrecimento dos
portugueses. Em vez de começar pelas medidas proposta pela troika contra
as rendas excessivas e contra os termos leoninos das PPP, preferiu
malhar nos funcionários e nos pensionistas por três vezes: com o imposto
em 2011 sobre o 14º mês, com a espoliação das 13ª e 14ª prestações dos
vencimentos que começou em 2012. O governo continua a avançar, aumenta o
IRS e o IVA, e reduz a deduções com as despesas pessoais de saúde. Tudo
em nome da meta do equilíbrio orçamental para 2013, um calendário
perfeito para encetar uma política eleitoral depois.
Graças
ao ministro Santos Pereira, o aumento da produtividade descentrou-se da
organização do trabalho, da inovação e da tecnologia e regressou ao
modelo ‘manchesteriano’ do aumento das horas de trabalho, um primarismo
de novo em vigor. A tentativa de dar cabo da influência dos contratos
colectivos e a incultura política demonstrada na questão dos feriados
obrigatórios terão o seu devido lugar na história do restauracionismo
anti-OIT. Santos Pereira olha agora para 2013 como o ano da descida da
contribuição patronal para a TSU como o último grito do aumento
artificial da competitividade à custa dos cofres do Estado, uma posição
comodamente liberal.
O governo de Passos Coelho
segue a troika naquilo que lhe dá jeito, mas devia antes cortar nas
rendas excessivas, sobretudo no sector da energia, e nas PPP,
nomeadamente nas pontes e auto--estradas. Assim poderia encetar uma
política de redistribuição de rendimentos na exangue sociedade
portuguesa. Este governo não consegue alterar os pagadores da
austeridade? Arranje-se outro, senhor Presidente da República."
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