"A promiscuidade é generalizada, os negócios privados são o quotidiano da actividade parlamentar.
O parlamento português converteu-se no maior antro de
tráfico de influências do país. São muitos os deputados que utilizam o
cargo público para fins privados, ao serviço das empresas com que
colaboram. Os conflitos de interesses são uma constante. Na comissão de
acompanhamento do programa de assistência financeira ao estado
português, têm assento deputados com interesses na Banca, na EDP e nos
principais grupos beneficiários das medidas do programa que deveriam
fiscalizar. Na agricultura, há parlamentares que tutelam a actividade do
ministério que atribui subsídios às empresas de que eles próprios são
gerentes. Até a comissão de avaliação das parcerias público-privadas
incorpora deputados ligados ao sector imobiliário, parceiros de sector
dos concessionários das PPP. A promiscuidade é generalizada, os negócios
privados são o quotidiano da actividade parlamentar. Os campeões desta
falta de vergonha são os advogados das grandes sociedades, que utilizam o
parlamento como filial dos seus escritórios, consumindo a maior parte
do seu tempo a resolver assuntos dos seus clientes. Por vezes, a sala
das sessões mais parece um escritório de advogados ‘open space’.
De
cada vez que alguém denuncia publicamente estas negociatas, logo se
levanta um enorme coro de protestos. Em primeiro lugar, dos visados, que
vêm defender que são tão sérios, que nem os conflitos de interesses os
impedem de defender o povo. Não é crível. Pois, se assim fosse, esses
deputados teriam forma fácil de o provar: promoviam a imediata suspensão
dos pagamentos das PPP, reduziam drasticamente as rendas pagas à EDP,
limitavam os privilégios atribuídos ao sector financeiro. E o povo
agradeceria!
Um segundo tipo de lamúrias vem dos
restantes deputados. Alegam que nem todos são vigaristas e portanto
haveria que identificar apenas os culpados. Tentam desta forma
generalizar a ideia de que todos são sérios.
Além
de inverosímil, esta defesa parlamentar corporativa é perversa. Não
combatendo o problema, contribui para a progressiva degradação da
Assembleia da República. Não esqueçam, senhores deputados, que quando se
misturam maçãs podres com maçãs boas, nunca são as podres que ficam
boas…"
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