Texto de Bruno Proença hoje publicado no "Diário Económico"
"A leitura do último relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre Portugal provoca as mesmas sensações de um pesadelo.
Não há
um único aspecto positivo. O "artigo IV" revela um país em crise e sem
luz ao fundo do túnel. As dificuldades que os portugueses estão a sentir
vão continuar nos próximos anos. A austeridade veio para ficar.
Na parte do Estado, a consolidação orçamental é "imperativa". Ou
seja, é necessário reduzir o défice e a dívida pública. Isto significa
que não há espaço para aliviar a carga fiscal. Quanto muito, o FMI
admite correcções em alguns impostos e incentivos para as empresas
exportadoras. Do lado dos gastos, a palavra de ordem é a
"racionalização" do emprego e dos salários na função pública e mais
"reformas" nas pensões e outras transferências sociais. Traduzindo,
menos funcionários públicos, a ganharem menos e mais cortes nas
prestações sociais.
Para o sector privado, o FMI também não é mais simpático. A
preocupação passa por diminuir o nível de endividamento junto da banca.
Para o Fundo, a prioridade deve ser a desalavancagem de empresas e
famílias. Portanto, não se fala em mais financiamento para as empresas
que permita relançar o investimento produtivo.
O crescimento económico fica todo às costas do sector exportador
que tem de enfrentar uma economia europeia em recessão. Perante isto,
percebe-se que Portugal vai continuar mergulhado numa crise profunda com
o desemprego elevado. O FMI tem consciência das implicações da sua
análise, por isso reconhece que tanta austeridade vai testar o consenso
político e social. A crise económica é também social. Para o Fundo, não é
certo que as medidas que estão em cima da mesa sejam aplicadas sem
rupturas no País. Por isso, os recados enviados para as instituições
europeias. É sabido que o FMI tem uma visão diferente da Comissão
Europeia e do BCE sobre a resolução da crise. No relatório sobre
Portugal, pede que os políticos europeus sejam capazes de resolver as
"fissuras" da zona euro. E, mais importante para nós, que suportem a
economia nacional caso falhe o regresso aos mercados por motivos alheios
ao País.
Com esta observação, o FMI está implicitamente a admitir que
Portugal não voltará aos mercados em Setembro de 2013, como está
previsto. A consequência será negociar novo plano com a ‘troika', que
agravará a austeridade. A economia anémica e o desemprego alto vão
manter-se. O FMI tira a conclusão: os jovens com mais educação vão
emigrar e provavelmente não voltam. É o ponto mais negro da análise do
Fundo. Com esta crise, o país vai perder a primeira geração minimamente
preparada. Como é que Portugal tem um futuro luminoso sem os melhores?"
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
A versão do FMI do pesadelo nacional
Etiquetas:
governo,
passos coelho
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