Texto de Pedro Tadeu hoje publicado no "Diário de Noticias"
"Anunciou ontem o
primeiro-ministro, perdão, o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, que o
memorando da troika, assinado em maio de 2011, já tem cerca de 95% das
suas medidas aplicadas ou em fase de execução. É muito.
Em
resultado dessa política ressaltam uma taxa de desemprego a passar os
16%, um aumento de dívida pública para 122% do PIB, uma redução
neurótica da atividade económica e uma ainda duvidosa diminuição do
défice.
Que conclusão se deve tirar, à luz desta aplicação de 95%
das medidas daquele programa? Que o plano que nos deveria salvar as
finanças e a economia, afinal, é uma porcaria? Não. Segundo o
primeiro-ministro, perdão, o ministro das Finanças, o que se fez é ótimo
e o resultado que se queria era mesmo este. Continuemos, pois, apela,
em frente, decididos, a aplicar os 5% que faltam.
Quando vejo o
primeiro-ministro, perdão, o ministro das Finanças, Vítor Gaspar,
responder pacientemente às pergunta dos jornalistas, a explicar
detalhadamente os pormenores das suas opções, a dizer, com placidez, que
vai poupar 250 milhões nas parcerias público-privadas, a deixar assim
cair na imaginação dos funcionários públicos, professores, enfermeiros,
médicos ou militares o cutelo do resto que falta para um corte de quatro
mil milhões de euros, vejo um homem, talvez inocência minha, que
acredita na obra que constrói.
95% desse trabalho, revela-nos o
primeiro-ministro, perdão, o ministro das Finanças, está aplicado. Nas
ruas, a obra de que ele tanto se orgulha é repudiada, vilipendiada,
insultada e, até, apedrejada. Ninguém gosta dela, só Vítor Gaspar. Será
sadismo? Será masoquismo? Como se explica esta cegueira?
Deixo,
por momentos, as argumentações económicas, frias. Vou às minudências do
dia a dia. Uma jornalista que me acompanhou na mesma redação durante
cinco anos, uma jovem de reputação profissional impecável e que, nos
bons tempos, era disputada entre duas ou três publicações, atravessou o
período do subsídio de desemprego e trabalha agora a servir cafés num
centro comercial. Ganha menos do que o salário mínimo e gere, com um
filho, um horário louco. Imagino os palavrões que lhe devem sair da
boca, como a milhares e milhares de outros profissionais que vivem
situações semelhantes, quando o primeiro-ministro, perdão, o ministro
das Finanças, proclama a sua satisfação com a aplicação destes 95% de
medidas do memorando da troika.
Mas olho a cara de Vítor Gaspar e vejo, juro, honestidade. Só restam, portanto, infelizmente, duas hipóteses: autismo ou tolice."
terça-feira, 20 de novembro de 2012
Vítor Gaspar está satisfeito porquê?
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