Texto de José Reis Santos, Historiador, hoje publicado no "Diário Económico"
"Mesmo os mais desatentos ao desenrolar
dos factos políticos nacionais já terão entendido que o discurso da
necessidade de impor a ferro-e-fogo mais medidas de austeridade (que tem
apenas colocado o país em níveis de pobreza inimagináveis, nada
resolvendo o problema do ‘deficit’) serve afinal apenas como cortina de
fumo para as verdadeiras intenções de alguns senhores deste XIX governo e
respectivos mentores ideológicos (importados).
E estas, totalmente escondidas do escrutínio eleitoral, passam
por desmantelar o Estado (social) como o conhecemos e alterar a
Constituição da República de forma a consagrar os princípios liberais
que dizem (agora) defender. Pretende assim Passos Coelho tornar Portugal
num país ´Low Cost', na feliz expressão de António José Seguro,
reservado para uso e abuso de abastados apátridas e recepção de
camionetas repletas de turistas fatiminianos.
Ora em teoria nada tenho contra um debate sério, transparente e
democrático sobre a actualidade (moral e ideológica) da Constituição
portuguesa ou acerca do papel e funções que um Estado contemporâneo deve
hoje assumir (assim como é imperativo debater seriamente a reforma
administrativa do território nacional com base em argumentos que
conciliem as demandas do século XXI com as memórias dos forais do século
XI). Aliás, penso mesmo que tais debates são decisivos para
abandonarmos a política de navegação à bolina que temos seguido nos
últimos anos e aventurarmo-nos por mares mais espaçosos, imaginando um
Portugal para os próximos séculos.
Dito isto, este debate deve visar a construção de uma proposta
socialmente consensual que represente não só as vontades partidárias mas
também as propostas que hoje emanam da cada vez mais organizada,
informada e influente sociedade civil. Debate que deve ser potenciado
através do diálogo institucional entre os diversos actores políticos,
parceiros sociais e a citada sociedade civil (que hoje tem lugar de
pleno direito em qualquer mesa negocial). Não seguir estes preceitos,
procurar alterar as pedras basilares do nosso ADN político através da
chantagem ou do usufruto totalitário de uma parca maioria parlamentar é
não só distorcer todos os princípios democráticos em que assenta a
República Portuguesa como desrespeitar a memória desta e de todas as
gerações de portugueses e portuguesas que contribuíram para a construção
deste nosso pedaço à beira-mar plantado.
Mas como já se entendeu que a este governo pouco interessa o consenso
ou o interesse nacional, encontramo-nos na antecâmara de um golpe de
Estado Constitucional que alterará significativamente o desenho
político-institucional de Portugal como talvez somente o Estado Novo o
tenha feito. E se na rua já se reúnem vários reviralhos, resta saber se
Cavaco pretende transvestir-se de Carmona, validando um Salazarinho de
4ª categoria, ou se se recorda de que é ele afinal o mais alto
magistrado da Nação e dá termo ao aventureirismo irresponsável de Passos
Coelho. Até porque alternativas, bem válidas, existem."
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Travesti de Carmona?
Etiquetas:
cavaco silva,
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passos coelho
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