Disse ontem Passos Coelho no congresso da JSD:
"Queixam-se de lhes estarmos a pedir um esforço muito grande, porque têm direito a receber hoje o que descontaram a vida toda. Não é verdade. Descontaram para ter reformas, mas não para ter reformas que não correspondem ao valor dos descontos que fizeram"
À noite na TVI Marcelo Rebelo de Sousa considerou que estas declarações foram uma "canelada ao presidente da república e, de passagem, a Bagão Félix e a Manuela Ferreira Leite".
Passos Coelho deu uma "canelada" aos portugueses (provando que nem delegado de turma deveria ser!)
Texto de João Lemos Esteve, publicado no seu blogue "Politicoesfera" no "Expresso"
"1. Passos Coelho é um case study de um
Primeiro-Ministro tecnicamente incompetente, humanamente insensível e
comunicacionalmente desastroso. Em termos de personalidade, Passos
Coelho é um irmão gémeo de Miguel Relvas: estão bem um para o outro.
O discurso de ontem de Passos Coelho, no encerramento do congresso da
JSD, foi verdadeiramente aterrador. Se o nosso Coelho tivesse noção do
ridículo e do prestígio e da honra que é servir a nossa grande Pátria
chamada Portugal, só teria uma saída possível: pedir desculpa aos
portugueses. Pela falta de respeito que tem por tantos portugueses. Pela
sua insensibilidade social que nos choca. O que disse Passos? Creio que
o meu caro leitor não ignorou e não deixou de ficar gélido, perplexo,
quando Passos Coelho veio afirmar que "não tem de aguentar esse
privilégio injustificado que é a reforma dos pensionistas que ao longo
da sua carreira descontaram parte do seu salário na expectativa (mais do
que) justificada de receber a compensação do Estado na altura devida".
Ah, mas cumpre fazer uma precisão: Passos Coelho só critica as pensões
mais elevadas...as pensões de verdadeiros ricos! Os ricos que ganham a
partir de...cerca de 1500 euros! Ui, cambada de milionários preguiçosos!
2. De facto, Passos Coelho não deixa de ter razão:
no país que ele está a construir, marcado pelo desemprego galopante e
pela pobreza crescente, receber 1500 euros por mês é um luxo! Passos
Coelho gosta é de ver os portugueses pobres, cada vez mais pobres -
desde que Ângelo Correia, Miguel Relvas e outros dos seus compadres
ganhem cada vez mais, para Passos Coelho tudo corre bem! É este o
caminho que devemos seguir: pobres, sem reforma e sem direitos laborais!
Também por aqui se percebe por que razão Passos Coelho gosta tanto de
investimento chinês...
3. Dito isto, vamos à análise política do discurso em
termos mais desenvolvidos. Marcelo Rebelo de Sousa interpretou as
declarações desastrosas de Passos Coelho como sendo uma "canelada" a
Cavaco Silva. Depois, Marcelo Rebelo de Sousa fez a desmontagem mais
brilhante, impiedosa e fatal do discurso incompetente - na minha
opinião, mentiroso - de Passos Coelho. Ontem, o Professor
na TVI deixou Passos Coelho absolutamente "K.O": Passos Coelho
dificilmente recuperará desta. No fundo, Marcelo Rebelo de Sousa
explicou a Passos Coelho as razões pelas quais todo o seu discurso não
passou de uma mentira pegada e de uma adulteração dos factos gravíssima.
Como é que os portugueses poderão confiar em alguém que recorre à
mentira grosseira para defender as suas políticas erradas e
inconstitucionais? Como? Se Passos Coelho é capaz de mentir quanto a
esta matéria, então é capaz de mentir sobre as todas as matérias.
Depois do comentário de ontem de Marcelo Rebelo de Sousa, a seriedade e a
credibilidade de Passos Coelho estão feridas de morte.
4. Quanto à crítica implícita a Cavaco Silva, falaremos
amanhã. Hoje prefiro registar que, mais do que uma canelada a Cavaco,
Passos optou por dar uma "canelada" violenta contra os portugueses. O
que só desonra um Primeiro-Ministro. É que Passos Coelho tentou colocar
um rótulo negativo aos pensionistas - pareceu quase o discurso dos que
achavam que existiam "pesos mortos" na sociedade, discurso que
julgávamos datado de outros tempos - como se eles se estivessem a
aproveitar dos restantes portugueses. Passos Coelho tentou, num ato
completamente falhado, colocar portugueses contra portugueses. Quando as
regras do bom senso e da liderança forte impunham que o
Primeiro-Ministro apelasse à unidade nos esforços e solidariedade nos
sacrifícios. Passos Coelho provou, mais uma vez, que é um fanático - é um fdp: neste caso, não um fanático dos pópós, mas sim um fanático dos pensionistas! Ou contra os pensionistas! Eu nunca votei num fanático para ser líder: nem para delegado de turma!
5. Por último, avanço já que Passos Coelho quer sair
deste episódio como a vítima - ao criar o antagonista entre os
pensionistas, classe privilegiada, e os outros, Passos quer fazer uma
distinção clara entre ele e o seu Governo, amigos da nova justiça social, e os outros (Presidente da República, PS,...) defensores dos privilégios injustificados. Desenvolveremos amanhã."
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