Texto de João Cardoso Rosas, Professor Universitário, hoje publicado no "Diário Económico"
"As eleições antecipadas permitirão
suplantar a actual situação, insustentável no médio prazo, de um Governo
que perdeu a maioria sociológica e que concita a desconfiança geral.
Há uma pergunta que toda a gente faz: quando teremos eleições
legislativas em Portugal? A resposta correcta é que ninguém sabe. Há
duas evidências que sugerem que estamos longe dessa possibilidade. Por
um lado, existe uma maioria absoluta de apoio parlamentar ao Governo.
Por outro lado, o Presidente da República é muito favorável à
estabilidade política e só a poria em causa em última instância.
No entanto, estas evidências têm fragilidades. Em primeiro lugar, a
coligação entre PSD e CDS é instável, como já ficou amplamente
demonstrado. Ora, as divisões entre os dois partidos tenderão a
agravar-se com a competição eleitoral autárquica e a própria degradação
do ambiente económico e social. Em segundo lugar, o Presidente está já
sob forte pressão da opinião pública e não poderá alhear-se eternamente -
sob pena de perder ainda mais popularidade e capacidade de influência -
da desaprovação substantiva e politicamente transversal a que o actual
Governo tem sido submetido.
Mas há uma outra pergunta que muitos hoje se fazem: a antecipação das
eleições legislativas serviria para alguma coisa? Esta é a pergunta
essencial e a resposta, em democracia, deve ser positiva. Não é correcta
a visão daqueles que consideram que a possibilidade de eleições
legislativas no segundo semestre de 2013, ou em 2014, significaria algum
tipo de catástrofe para o país. Por exemplo, no caso grego foram as
eleições que permitiram desbloquear a situação, relegitimar o poder e
evitar a bancarrota imediata.
No caso português, se isso vier a acontecer dentro de um prazo
razoável - não é para amanhã, como alguns pensam -, as eleições
antecipadas permitirão suplantar a actual situação, insustentável no
médio prazo, de um Governo que perdeu a maioria sociológica e que
concita a desconfiança geral. Esta desconfiança liga-se, com certeza, às
dúvidas de carácter em relação a alguns dos seus membros - Passos
Coelho, Relvas -, mas também e sobretudo ao facto de que a política
prosseguida, para além de afectar fortemente os interesses dos cidadãos,
contraria o contrato eleitoral que PSD e CDS com eles fizeram.
Para além de refrescar a legitimidade, o que é fundamental num
processo de ajustamento, as eleições abrem novas possibilidades de
Governo, de acordo com o mandato dos eleitores.
O país pode ter outra coligação PSD/CDS, com novos protagonistas. Mas
pode também ter um Governo maioritário do PS. Ou ainda uma coligação ao
centro, entre PS e PSD, num Governo de salvação nacional. Uma coligação
entre PS e CDS também é possível e não seria necessariamente mais
instável do que a actual. Todas estas possibilidades existem e já foram
experimentadas. A democracia não bloqueia, desbloqueia."
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
As eleições
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