Texto de Alexandre Abreu, Economista, hoje publicado no "Diário Económico"
"Sabemos já que a encarnação do
neoliberalismo tardio que dá pelo nome de XIX Governo Constitucional – e
que, aliás, seria mais apropriadamente apodado de Desgoverno
Inconstitucional – é especialmente medíocre e predatória.
Predatória na forma como ataca sem escrúpulos as conquistas do
desenvolvimento português, bem como os direitos dos mais vulneráveis,
para garantir benesses diversas a compadres e a complacência dos
suseranos internacionais. Medíocre nos seus actores, nas suas pretensas
"estratégias", nos argumentos falaciosos utilizados.
Tomemos o exemplo da Segurança Social, que segundo Passos Coelho terá
inevitavelmente de sofrer alterações dada a sua pretensa
insustentabilidade. Acaba de informar o País que "há pessoas que que têm
reformas pagas por aqueles que estão a trabalhar" (oh, surpresa: temos
um sistema que ainda é principalmente de repartição e não de
capitalização) para em seguida afirmar que os que agora trabalham "nunca
terão" reformas a esse nível (anunciando assim apenas a intenção de
desmantelar o sistema).
Os contornos precisos não são claros, mas o modelo é conhecido: menor
componente de solidariedade redistributiva; adiamentos consecutivos da
idade da reforma; abertura de todo o espaço à capitalização privada via
sistema financeiro, com apenas uma rede mínima de apoio aos indigentes.
Esquecendo, respectivamente, que este é já um dos países mais
desiguais da Europa e OCDE e que a solidariedade redistributiva via
Segurança Social é essencial para limitar o crescimento dessa
desigualdade; que é absurdo alegar a necessidade do adiamento da idade
da reforma quando mais de 1/5 da população activa está efectivamente
desempregada e impedida de contribuir; e que os sistemas privados têm
mostrado historicamente ser menos eficientes (devido às comissões) e
muito mais propensos ao risco de colapso. Falam da esperança média de
vida, mas o problema real é a morte provocada do desenvolvimento
português.
Não surpreende: estamos perante os coveiros de Portugal."
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Os coveiros
Etiquetas:
governo,
passos coelho
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