Texto de Alfredo Leite, hoje publicado no "Jornal de Noticias".
"O ano de 2012 chega hoje ao fim. Parafraseando Pedro, a quem nunca
dei um mísero 'like' no facebook, este não foi o ano que merecíamos.
Foi, isso sim, o ano em que herdamos uma política engendrada por Gaspar,
o ministro de Pedro que cultiva um humor de gosto duvidoso e uma
cadência de voz a dois tempos, usada como disfarce de cordeiro, que não
é, e cujas opções depauperaram a vida dos portugueses e a qualidade dos
serviços públicos como não há memória.
Tal como na versão de
Prokofiev, também as personagens deste Pedro e o lobo têm tocado
instrumentos variados para nos contarem a sua história. A diferença é
que, ao contrário da escrita do compositor ucraniano, os solistas desta
orquestra andaram um ano desafinados. O naipe de músicos fica também
famoso por ter passado doze meses a titubear ao ritmo errante da batuta
de Gaspar que teimou até à última em não escutar a melodia que ecoava
nas ruas.
Resultado: a polémica e infame TSU foi abandonada na
sequência das manifestações de 15 de setembro, provavelmente o
acontecimento mais relevante de 2012. Mais tarde, a trapalhona
privatização da TAP foi adiada e, não obstante a justificação oficial da
falta de garantias bancárias, a verdade é que a pressão da opinião
pública a tal obrigou o Governo.
E estes são apenas dois exemplos
do que, num ano de avanços e recuos, foi marcando a política de Pedro.
Mas há muitos outros para juntar ao temor de que o perímetro do pântano
do BPN - banco tóxico do regime cujo buraco de milhões nos vai
certamente continuar a asfixiar - possa ser de dimensões ainda maiores.
A
observação dos tristes acontecimentos do ano político que agora finda
permite-nos concluir que iremos de mal a pior em 2013. A contração do
PIB português (em oposição ao previsível pequeno aumento na Zona Euro)
para o ano que estamos prestes a celebrar vai agravar ainda mais a nossa
condição de vida. O desemprego vai inevitavelmente aumentar, assim como
o número de falências. Por arrastamento, seremos obrigados a cumprir o
desejo de Pedro e emigrar. A pequena criminalidade vai reforçar a
sensação de insegurança que ajuda a tolher a vivência social do país.
O empobrecimento acentuado da nossa sociedade vai conduzir-nos quase inevitavelmente ao abismo de novos planos de austeridade.
Além
de mais pobres, viveremos também mais de perto o desespero que está a
tomar conta de muitas vidas, como provam os números alarmantes que
publicamos na edição de ontem.
E é com este cenário que entramos
num novo ano. Para 2013 fica ainda a pergunta do milhão de dólares: vai
Passos Coelho aguentar-se no Poder? Provavelmente sim. Pelo menos
enquanto durar a paz podre do casamento de conveniência que é a
coligação governamental e Cavaco atuar por omissão. Mesmo que, como se
adivinha, o descalabro eleitoral das autárquicas do final do ano atire o
PSD para um buraco negro. Um reduto do qual um PS liderado por Seguro
dificilmente se aproveitará em termos nacionais."
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
O ano de Pedro e o lobo
Etiquetas:
governo,
passos coelho
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