Texto de Daniel Amaral, economista, hoje publicado no "Diário Económico"
"Estávamos em Abril de 2011. Sócrates
capitulara, e com isso abriu caminho a eleições antecipadas que haveriam
de levar ao poder o senhor dos Passos.
A mensagem deste era clara: para vencer a crise, era preciso
cortar nas "gorduras", e ele tinha um plano prontinho para entrar em
acção; logo que iniciasse funções, seria cortar, cortar, cortar... Mas o
mundo dá muitas voltas e em breve o plano virou de pernas para o ar. As
"gorduras" que ele escolheu para cortar eram salários, subsídios e
pensões. Foram passos em falso.
Mas, para quem tanto prometera, o melhor ainda estava para vir. Se
partirmos de 2010, a que atribuímos o índice 100, o PIB em 2012 terá
caído para 88 e o investimento para 67, o que significa o colapso total
da economia. Isto se as projecções estiveram certas. O mais provável é
que não estejam, porque isso é coisa a que Passos nunca ligou. Sendo o
investimento a mola real da economia, que faz crescer o produto e o
emprego, é óbvio o desastre que aí vem e com o qual a ‘troika' tanto nos
elogia. São passos suicidas.
O impacto no desemprego foi imediato. Números do INE do último
trimestre apontam para uma população de 10.598 milhares, dos quais 5.527
constituem a população activa. E, desta, 871 mil estão desempregados, o
que dá uma taxa de desemprego de 15,8%. Mas Passos assobiou para o
lado. E se a estes números juntarmos a parte não trabalhada do emprego a
tempo parcial, mais os inactivos disponíveis que não procuram emprego,
aquela taxa dispara para mais de 20%. E a dos jovens para quase o dobro.
São passos arrepiantes.
Juntando os cacos, chegamos à dívida pública, que há-de ser o nosso
coveiro. No final de 2010 era de €162 mil milhões, 94% do PIB. Mas a
previsão para 2013 já vai nos 205%, mais do dobro do valor anterior!
Ignoro se, ao olhar para tudo isto, Passos não sente uma espécie de
bloco de gelo a percorrer-lhe a coluna de cima a baixo. O facto é que a
dívida terá de ser reestruturada, em prazos e taxas de juro, por mais
que ele esperneie a dizer que não. Desliguem. Outros terão de fazer o
que ele não quer. Os seus passos falharam.
Descobriu-se entretanto que as famosas "gorduras" de que Passos
falava visavam as funções sociais - Educação, Saúde e Segurança Social
-, em que vai ser necessário cortar mais €4.000 milhões até 2014. Admito
que não será este o momento de avaliar o impacto que estes novos cortes
vão ter no dia-a-dia das pessoas. Mas, sabendo-se como já são as
limitações actuais, tenho extrema dificuldade em avaliar como é que
depois da passagem deste ‘tsunami' os portugueses vão viver em Portugal.
À beira do abismo - um passo em frente?
Os passos de Passos são passos perdidos."
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Passos perdidos
Etiquetas:
governo,
passos coelho
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