Texto de Francisco Proença de Carvalho, Advogado, hoje publicado no "Diário Económico"
"É assustador a facilidade com que o Estado se permite quebrar o seu contrato social e nacionalizar o rendimento das pessoas.
Eis uma palavra pouco utilizada em Portugal até que a governação
passou a ver na mesma uma oportunidade para tentar obter mais receita
fiscal. Os bonitos princípios da equidade e da solidariedade passaram a
significar mais impostos. E, no final, mais impostos significam
recessão, desemprego e mais pobreza transversal à sociedade.
As vítimas recentes da equidade são os pensionistas. 2013 será o ano
em que a equidade apregoada quanto à distribuição dos sacrifícios
chegará, sem meias medidas, aos que já não têm força para emigrar,
através da chamada Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES),
aplicável a alguns pensionistas "dourados", ou seja, aqueles que recebem
mais de 1350 euros. Em alguns casos, a aplicação deste imposto dito
solidário, conjugado com as taxas de IRS, significará que o Estado se
permite retirar 70, 80 ou mesmo 90% do rendimento de cidadãos.
Só se aplica aos ricos, dizem alguns protagonistas, curiosamente da
direita Portuguesa. Isso é irrelevante! Isto porque a democracia tem
limites e estes aplicam-se a ricos e pobres. Julgava impossível que, em
democracia, algum cidadão pudesse ver o Estado retirar-lhe tamanha fatia
do seu rendimento mas, pelos vistos, estava enganado. Se isto não é
confisco, o que é? Se isto não é inconstitucional, o que é? Vivemos
tempos de grande exigência, mas a acção do Estado não pode ser
ilimitada, sob pena de palavras como "democracia" e "liberdade", que não
existem sem o direito à propriedade privada, passarem à história.
Sou da geração que tem perfeita noção de que não vai ter reformas
compatíveis com os seus descontos e que, se tiver uma reforma mínima já
será uma conquista assinalável. Se tiver saúde, também sei que não me
vou reformar aos 65 ou muito menos aos 55 anos, como vi acontecer com
muitos dos que se aposentaram ao longo das já quase quatro décadas de
festejos que a revolução de Abril mereceu em Portugal. Nada disso me
assusta. O que é assustador é a facilidade com que o Estado se permite
quebrar o seu contrato social e nacionalizar o rendimento das pessoas. E
isso é ainda mais gravoso numa altura em que o último garante de
sobrevivência de muitas famílias arrastadas pela crise são precisamente
os pensionistas da classe média.
Não se deixem os portugueses enganar com a nobreza do princípio da
equidade na boca de um decisor político nos dias de hoje. Isso apenas
significa que os pobres continuarão pobres, os remediados ficarão
pobres, a classe média passa a baixa e a classe alta gastará muito
menos. Portanto, se no discurso teórico estas ideias soam bem e parecem
justas, na vida real significam desgraça colectiva."
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
Equidade
Etiquetas:
governo,
passos coelho
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