Texto de Daniel Oliveira, publicado no seu blogue "Antes pelo contrário" no "Expresso"
"Quando a Grécia conseguiu algumas novas condições, incluindo a redução dos juros, alterações de maturações, mudanças de prazos e, na prática, uma reestruturação da sua dívida, o governo português fez saber que queria que essas condições também fossem aplicadas a Portugal. Jean-Claude Junker disse que tal iria acontecer. Dois dias depois a Alemanha falou e o presidente do Eurogrupo explicou-se: "Percebi mal a pergunta e nem sequer a ouvi". E o ministro Vítor Gaspar, dando o dito por não dito, afirmou que as informações que ele próprio repetira, ao vivo, no Parlamento, tinham afinal sido descontextualizadas pela imprensa.
Esta semana, o verdadeiro presidente da do Eurogrupo, o ministro das Finanças alemão Wolfgang Schaeuble, informou que tal seria um desastre para Portugal. Foi acompanhado por outros ministros europeus. Aconselhou: não queiram ser comparados com a Grécia. A Grécia é caso único e a aplicação da dieta está a correr muito bem para vocês. Estando a correr tudo bem a Portugal - como os portugueses podem observar e os números indicam -, terão de continuar a ser punidos com juros de assalto. Porquê? Porque em Portugal ainda há algum dinheiro para sacar. Na Grécia é que não.
Ou seja, Schauble explicou que Portugal deve ser punido por ser "bom aluno". Como muitos têm dito e escrito, ser obediente tem prejudicado o País. Agora isso foi explicado com todas as letras. Portugal terá piores condições do que a Grécia porque tem dito à Europa e ao mundo que tudo está a correr às mil maravilhas. Até vai brevemente regressar aos mercados, diz Schaeuble em delírio.
A reação de Pedro Passos Coelho, apesar de absurda, foi a que se esperava. Perante a lisonja, abanou a cauda e deu a pata. Isto foi um elogio e devemos ficar muito satisfeitos. Ficamos a pagar juros mais altos do que a Grécia e não se fala mais nisso. Porque ser melhor do que a Grécia e merecer a condescendente simpatia alemã não sai de borla.
Vou tentar pôr isto de uma forma crua. Estou-me nas tintas para os elogios do senhor Schaeuble. Os elogios não criam emprego. Não salvam empresas. Não resolvem o problema do défice. Não impedem os cortes na educação e na saúde. Não reduzem os impostos que eu pago. Os elogios não pagam dívidas. Podem alimentar o ego provinciano de um primeiro-ministro sem firmeza, que faz voz grossa para quem o elegeu e é incapaz de fazer uma exigência, pequena que seja, em Bruxelas. Mas pagar dívidas em piores condições e com juros mais altos, para confirmar um elogio, não é motivo de satisfação para ninguém que esteja no seu prefeito juízo.
Se a simpatia do senhor Schaeuble pelo senhor Coelho me obriga a pagar mais impostos prefiro a sua antipatia. Quando negociamos com alguém é pouco importante se do lado de lá está alguém que gosta de nós. Se formos bons negociadores, é até provável que nos venha a detestar. Talvez assim nos respeitem. E isso é coisa que Passos Coelho nunca conseguirá: ser respeitado. Quem mendiga apenas consegue migalhas. Passos nem isso. Satisfaz-se com uma festa na cabeça."
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Os elogios não pagam dívidas
Etiquetas:
governo,
passos coelho
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